segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Bolo do caco


O bolo do caco, pão de trigo vulgar da Madeira, é umas das principais heranças da influência magrebina e do arquipélago das Canárias.
Trata-se de um pão feito com farinha de trigo, fermento de padeiro, água e sal. Depois de unidos os ingredientes, a massa fica a levedar algumas horas. A proporção depende do tempo que tem de fermentação. Usando o chamado fermento de padeiro industrial, este é utilizado na proporção de 30 a 50 g por cada quilograma de farinha de trigo.
Formam-se pequenas bolas de massa que são depois achatadas e arredondadas, devidamente polvilhadas de farinha.
A cozedura deve ser feita sob uma pedra (caco) bem quente. Hoje, devido à falta de pedras basálticas para cozer, utilizam-se chapas metálicas. Há quem recorra a frigideiras de ferro antiaderentes. O pão é cozido dos dois lados e nos bordos, até criar uma crosta.
O bolo do caco deve ser consumido quente, e é um excelente complemento para espetada, podendo ser barrado com manteiga d'alho.

Gastronomia - Cozinha Tradicional


A gastronomia tradicional nacional e regional assume-se cada vez mais como vector de promoção turística, porque é procurada e sobejamente apreciada pelos nossos visitantes. É tradicional porque, como refere Fialho d’Almeida, num famoso texto do 3º volume de "Os Gatos", nem mesmo os naturalizados conseguem elaborar os seus pratos.
"Uma composição culinária, característica, inconfundível. Transmite-se por tradição: os estrangeiros não sabem confeccioná-lo, mesmo naturalizados: tendo chegado até nós por processos lentos, e contraprovas de biliões de experimentadores, sucessivamente interessados em o fixar de forma irrepreensível, resulta ser ele sempre uma coisa eminentemente sápida e sadia. Isto o distingue dos pratos “compostos”, quero dizer daquelas mixórdias de comestíveis e temperos, doseados a poder de balança, exclusivamente científicas, nada intuitivas e meramente inventadas.
O prato nacional é como o romanceiro nacional, um produto do génio colectivo: ninguém o inventou e inventaram-no todos: vem-se ao mundo ido por ele, e quando se deixa a pátria, antes de pai e mãe, é a primeira coisa que se lembra.
Em Portugal não há província, distrito, terra, que não registe entre os monumentos locais, a especialidade de um petisco raro, sábio, fino, verdadeira sinfonia de sabores sempre sublime".

In "À Mesa com Fialho de Almeida"

Panelo levou milhares ao Chão da Ribeira


A tradição do panelo levou, domingo, milhares de pessoas a confraternizar no Chão da Ribeira, freguesia do Seixal (Porto Moniz).
Trata-se do cozido madeirense composto por couves, semilhas e carnes de porco e vaca, que depois de cozido é vertido sobre uma toalha para escorrer e todos os presentes poderem servir-se.
Ao longo da única estrada do sítio diversos grupos começaram manhã cedo com os preparativos, com as panelas de grandes dimensões a serem enchidas com os diversos ingredientes. Famílias inteiras e amigos, grupos com mais de uma centena de pessoas, passaram horas em ameno convívio até a hora de almoço, para depois saborearem o cozido madeirense.
Uma das famílias presentes utilizou uma panela com capacidade para 150 litros, onde foram confeccionados 38 quilos de carne de porco e de vaca, duas sacas de semilhas, 15 quilos de chouriço (ingrediente que não consta do panelo original), duas sacas de couves e 15 quilos de batata doce. Depois de três horas a cozer à lenha, numa cozinha improvisada, o panelo é deitado sobre uma toalha de mesa para escorrer.
O Chão da Ribeira, na freguesia do Seixal, é uma zona que constituí um autêntico paraíso natural, ocupado por pequenas habitações, os denominados palheirinhos, maioritariamente recuperados para férias pelos seus proprietários.
Reza a história que a festa surge graças a um grupo de rapazes que subia todas as manhãs a pé ao Chão da Ribeira para, entre outras funções, tratar do gado, tirar o leite às vacas e apanhar erva. E foi este grupo que começou por fazer algumas refeições quase espontâneas. Depois do Natal, levavam de casa de cada um alguma carne de porco salgada e tiravam dos terrenos do Chão da Ribeira umas couves e umas semilhas que usavam numa refeição em ambiente de festa, que à falta da panela recorreram ao panelo.