terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Passagem de ano: "Alquimia da Cor" na baía do Funchal


O espectáculo pirotécnico do Funchal, que em 2007 foi reconhecido pelo “Guinness Book of World Records” como o maior do planeta, terá este ano a duração de oito minutos e é subordinado ao tema "Alquimia da Cor", da responsabilidade da empresa Macedo's Pirotecnia.
O fogo será disparado a partir de 39 postos, sendo 24 no anfiteatro da cidade, oito na orla marítima e baixa citadina e os restantes cinco no mar, onde estarão seis navios de cruzeiro.
Serão queimadas mais de 17 toneladas de fogo-de-artifício, em 71 mil disparos e rebentamento de 40 mil peças, num espectáculo que custará ligeiramente acima de um milhão de euros.
Entretanto, o fogo-de-artifício no Porto Santo será lançado, este ano, a partir do miradouro da Portela, sendo igualmente da responsabilidade da mesma empresa portuguesa.
No que concerne ao estado do tempo, depois das intensas chuvadas e do vento forte que têm fustigado a Madeira nos últimos dias, os meteorologistas prevêem para a noite de São Silvestre madeirense céu muito nublado.
A tradição leva milhares de madeirenses a casa de familiares ou amigos para assistir, em pontos estratégicos ao fogo. Uma oportunidade para confraternizar e degustar algumas iguarias da gastronomia e da doçaria regional, além das bebidas que fazem aquecer a alma, esquecer as agruras do ano velho e brindar ao novo.
Bom ano de 2009 a todos os visitantes deste blogue!

Passagem de ano: Poucos acreditam, mas quase todos cumprem rituais para trazer boa sorte


Uns têm origens seculares, outros ninguém sabe como surgiram, mas todos visam trazer boa sorte para o ano que começa. Dos mais crentes aos mais cépticos, na noite da passagem de ano, poucos são os que dispensam rituais que prometem dinheiro, saúde e amor. Na Madeira não há muitas diferenças.
"Cumprir alguns rituais dá um certo conforto psicológico. Mesmo quem não acredita em superstições, acaba muitas vezes por perpetuá-las, considerando que não custa nada e, pelo sim, pelo não, é melhor cumpri-las, não vá dar-se o caso de até funcionarem", explica o sociólogo e professor da Universidade Nova de Lisboa Moisés Espírito Santo.
Para o especialista, o peso da tradição acaba por gerar uma pressão colectiva e até alguma "coacção social" no sentido de se cumprirem estes rituais: "se toda a gente faz, por que razão não hei-de fazer também?", é a pergunta, por vezes inconsciente, que muitos se colocam.
Segundo um inquérito realizado pela Marktest em 2006, só 30 por cento dos inquiridos afirmaram não ter nenhuma superstição associada ao reveillon. Comer 12 passas nos segundos finais do último dia do ano e, por cada uma, pedir um desejo é, de longe, a tradição mais popular entre os portugueses.
"Há uma visão mágica associada a esta data, que faz com que as pessoas acreditem que tudo pode mudar de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro. Por isso, acham que a probabilidade de se cumprirem os desejos é maior se eles forem pedidos nesse momento de transição", afirma Moisés Espírito Santo.
Também por essa razão, este é, frequentemente, o momento escolhido para tomar decisões importantes e até mudar de vida: fazer dieta, deixar de fumar, passar mais tempo com a família ou casar, por exemplo, são resoluções com que muitos se comprometem para o ano que está prestes a começar.
Até porque virar a última folha do calendário é como "começar tudo de novo", mas com esperanças fortalecidas numa vida mais feliz. O conceito de renovação é, aliás, um dos mais fortemente associados a esta época, estando subjacente a quase todas as tradições da passagem de ano.
Estrear uma peça de roupa interior ou fazer a cama com lençóis nunca antes usados, que a crendice assegura trazerem boa sorte para o amor, são superstições ligadas a esta ideia de novo começo, assim como a ancestral tradição de deitar fora objectos velhos que perderam a utilidade, ou o simples gesto de enrolar uma nota alta na mão, ou tê-la no bolso e desejar mais dinheiro para o ano novo.
Fazer barulho é igualmente um dos mais antigos, mas também mais enraizados rituais associados ao reveillon, um pouco por todo o mundo. Seja gritar, lançar foguetes ou bater em panelas, a ideia, adianta o sociólogo, "é espantar os maus espíritos, os demónios e os velhos fantasmas que possam ter atormentado ou perturbado o ano que passou".
Entre as superstições que prometem bons augúrios para o futuro, subir a uma cadeira à meia-noite é, supostamente, sinónimo de prosperidade.
Numa altura de crise económica, é provável que muitos não se esqueçam de os cumprir. Até porque estes rituais da passagem de ano são como as bruxas: ninguém acredita, mas…

Joana Bastos (Lusa)/MF

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Cozinha Contemporânea Madeirense

O chefe de cozinha francês Yves Gautier lançou há poucos dias o livro intitulado "Cozinha Contemporânea Madeirense", patrocinado pela empresa Funchal 500 Anos, numa cerimónia que contou com a presença da secretária regional do Turismo, Conceição Estudante.
Trata-se de um livro que apresenta um receituário renovado com aspectos da cozinha tradicional madeirense, com a qualidade de um profissional que já vive na Região há vários anos. O chefe Yves Gautier apresenta um currículo invejável, tendo trabalhado em vários países e regiões do mundo, nomeadamente em França, Reino Unido, Caraíbas, Médio Oriente. Na Jordânia foi chefe de cozinha do Rei Hussein I.
Confessa apreciadora da arte de Yves Gautier, há vários anos, Conceição Estudante, esteve no lançamento do livro que, após ter folheado, disse que a obra permite “saborear por antecipação” as especialidades apresentadas pelas imagens do Studio Quattro. De Yves Gautier, a governante enalteceu o dom que o cozinheiro tem no uso de ervas aromáticas.
Conceição Estudante, realçou ainda a importância da obra para a divulgação da gastronomia madeirense. No seu entendimento, a cozinha regional é muito rica, mas não tem merecido a divulgação necessária. Este livro vem, no seu entender, ajuda a preencher essa lacuna.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Cumprida a tradição da Noite do Mercado




Cumpriu-se mais uma “Noite do Mercado”, com todos os seus componentes tradicionais que nem a chuva impediu que fossem realizados.
À passagem pelas ruas circundantes, apinhadas de gente, misturavam-se os cheiros característicos da confecção da carne vinha d’alhos, das malassadas, das tangerinas da Região e das flores.
A espaços encontravam-se pequenos grupos musicais, mais ou menos organizados. À porta do mercado ouviram-se às primeiras horas, cânticos entoados por algumas pessoas, do grupo cultural da Casa do Povo de São Martinho. Na Rua Latino Coelho, o despique animou por alguns instantes, quem por ali passava.
O ponto alto foi para a actuação da “Confraria dos Cantares”, composta por meia centena de pessoas, que há hora marcada (23), encheram a praça do peixe com um reportório de cânticos de Natal.
José Alberto Gonçalves, um dos principais impulsionadores do grupo, recorda que foi na década de 80, que alguns amigos retomaram os cantares no mercado. “Estes amigos já há muito que cantavam como um grupo de porta-a-porta em casas de amigos, até ao dia em que alguém deu a ideia de virmos ao mercado”, lembrou o autarca de Santa Cruz.
Hoje, mais organizados, continuam a “construir a tradição” numa das mais concorridas tradições do Natal madeirense.
As portas do mercado encerraram às 02h00, mas nas ruas circundantes o arraial decorreu pela madrugada, terminando às seis da manhã.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sandes com sabor a Festa


Longe vão os tempos em que a carne de vinha d’alhos era comida apenas na Festa. Hoje, é um prato que vai à mesa dos madeirenses ao longo do ano de uma forma mais frequente. Ainda assim, sobretudo as sandes, é algo que lembra sempre esta quadra de Natal.
As sandes de carne de vinha d’alhos, em carcaça, ou em bolo do caco — embora seja mais frequente em carcaça, ou papo seco — é algo que os madeirenses associam a esta quadra. Apesar de ser uma iguaria típica de muitos arraiais ao longo de todo o ano.
Apesar de haver quem não goste, a verdade é que as sandes de carne de vinha d’alhos são sempre muito procuradas, em especial na tradicional Noite do Mercado, onde o cheiro característico se faz notar por toda a zona envolvente.
Os ingredientes são simples: carne de porco (de preferência com alguma gordura), alho, vinho e vinagre, louro e segurelha. Mas, apesar de, à primeira vista, podermos considerar uma “iguaria” de fácil confecção, a verdade é que ela tem também os seus segredos, quer nas proporções dos diferentes ingredientes, em especial o alho e o vinagre, cujos aromas são mais intensos, quer na maneira de preparar. Por isso, é natural que o sabor possa ser diferente, consoante a forma como foram feitas e as quantidades usadas.
Escusado será dizer que, normalmente, as melhores são as que são feitas em casa, pois estão de acordo com o nosso gosto. Mas, em tempo de festa, não há como comprar já feitas. Mesmo que a carne só tenha quase o sabor a sal, ou seja mais gordura que carne. Mas é assim mesmo, em dias de festa.
Independentemente disso, as sandes de carne de vinha d’alhos são indispensáveis nesta quadra natalícia. Pois, trata-se de um dos elementos característicos da Festa madeirense, que se distingue de grande parte das regiões do nosso país.
E porque, nesta altura, há uma maior tolerância para os exageros gastronómicos, é preciso aproveitar, saborear e deliciar-se com o sabor e os aromas, que não se ficam apenas pelas sandes de carne de vinha d’alhos, mas que sem dúvida, ocupa um lugar de destaque na ementa madeirense nesta altura do ano.

Marsílio Aguiar (Jornal da Madeira)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Doces ganham formas e nomes diferentes em cada região do país


Os ingredientes base são os mesmos e o valor calórico também. Com adaptações cozinhadas ao gosto de cada um, os doces de Natal ganham nomes e formas diferentes consoante a região do país.
Se no Algarve lhes chamam empanadilhas e em Sines pastéis, no resto do país são conhecidas por azevias (na foto). De grão, batata doce ou amêndoa, elas são a prova de que seja no Norte ou no Sul, o Natal quer-se doce.
Nas mesas portuguesas por altura do Natal não faltam as famosas rabanadas, os fritos de pão passado por leite e ovos também conhecidos como fatias douradas, fatias paridas ou de parideira. Na Madeira são conhecidas apenas por douradas, servidas polvilhadas de açúcar.
No Douro e Minho chamam-lhe fidalgas e têm uma variante: o pão leva manteiga e é regado de véspera com leite fervido com limão e um pau de canela e em vez de fritas são cozidas numa calda de açúcar.
No final são polvilhadas com canela ou com a restante calda de açúcar, mas neste caso, seguindo as regras da gastronomia regional, convém fazer de véspera.
Também com calda de açúcar são feitos os mexidos de Natal, típicos da região minhota e do Douro, que vão ao lume com nozes, passas e pinhões. São servidos em pequenos pratinhos polvilhados com canela.
Das regiões do Minho e Douro são os conhecidos bolinhos de jerimu, um puré de abóbora a que se junta farinha, fermento, açúcar e claras em castelo, que nalgumas zonas também são chamados de sonhos. Por cá comem-se mais no Carnaval, a par das malassadas.
À açorda doce o Minho chama formigos e o importante é ter imaginação. Ao pão cozido em leite e ovos podem juntar-se o mel ou o vinho doce.
Já a aletria, tradicional no Minho e Douro, mantém o nome em todo o território nacional, mas o mesmo não acontece com a filhós, o mais famoso doce natalício, que além do nome também vê variar a forma consoante a região.
As filhós são velhozes nalgumas zonas e noutras em vez da massa ser estendida para fritar é frita em forma de bola (Alto Alentejo), de chapéu (Outeiro de Gatos/Meda) ou mesmo cortada às tiras e enrolada num garfo enquanto passa na fritadeira, para ganhar a forma espiral.
Com as necessárias adaptações, acrescentando o sumo de laranja e a aguardente e fritando a massa em tiras dobradas em forma de livro, o Baixo Alentejo chama-lhes judias.
O pão frito reaparece na sopa doce (Douro) ou sopa dourada, cozinhado em vinho quente com açúcar e um pau de canela.
Sejam eles chamados de azevias, empanadilhas, rabanadas ou fatias, sonhos ou bolinhos de jerimu há um ingrediente comum a todos: o açúcar. Muito açúcar.
Porque o Natal não é boa altura para cuidar da linha e quando chegar o dia já se gastaram algumas das calorias que se vão consumir, seja nas compras (caminhada, marcha ou corrida) ou na delicada tarefa de fazer a árvore, subindo e descendo bancos e escadotes.
É que como diz o ditado: Não se engorda entre o Natal e o Ano Novo, mas sim entre o Ano Novo e o Natal. O seguinte, claro.

Susana Oliveira - Lusa/MF

A Noite do Mercado


Todos os anos, na denominada "Noite do Mercado", milhares de pessoas, residentes e turistas, convergem para as imediações do Mercado dos Lavradores, no Funchal, conjugando o pretexto de adquirir frutas e legumes para as refeições da quadra festiva com a tradicional animação.
Outrora, meramente por razões financeiras, os madeirenses aguardavam os dias mais próximos da Festa para as compras de Natal, que incluíam as frutas, os legumes, os arranjos e os próprios brinquedos, que também se vendiam nas imediações do mercado.
O subsídio ou o complemento de Natal era pago mais tarde, pelo que era grande a azáfama durante o dia e a noite de 23 para 24, levando milhares de madeirenses ao Funchal.
Hoje, mais que comprar, as pessoas vão ao mercado para divertirem-se ao som dos cânticos que serão entoados no interior do recinto, e pelo arraial que é montado nas ruas circundantes, encerradas ao trânsito e nas quais são montadas barracas de comes-e-bebes.
As portas do mercado estão abertas até à meia-noite, mas no exterior, os vendedores assentam arraiais e vendem os seus produtos até às 6h00. Também os bares circundantes funcionam toda a noite e a música anima todos os que ali se concentram e consomem sandes de carne vinha d'alhos, à mistura com muita cerveja, poncha ou vinho.
Esta é mais uma aposta da animação da cidade do Funchal, ainda a comemorar os 500 anos, pelo que a autarquia disponibilizou mais de 3.000 lugares de estacionamento a custos reduzidos. A PSP terá no terreno 50 agentes para garantir a ordem numa das mais concorridas tradições do Natal madeirense.

Canja de galinha

A canja de galinha madeirense é consumida tradicionalmente na noite de Natal, servida em pequenas taças ou chávenas. Com a carne, fazem-se as sandes que acompanham a degustação da canja. A receita que aqui deixo é de fácil confecção e a que presenteio os comensais.

Ingredientes

1/2 galinha c/miudezas
1 cebola
1 tomate
1 nabo
1 cenoura
1 pau de canela
Arroz ou massa fina
sal q.b.

Coza a galinha (limpa de peles), com as miudezas, em água abundante, temperada com o sal. Adicione a cebola inteira, o tomate cortado em dois, o nabo aos cubos, a cenoura cortada em palitos e o pau de canela. Deixe cozer por uma hora. Decorrido esse período deite o arroz ou a massa fina e deixe ferver por mais 10 minutos. Retire a cebola, o tomate e o pau de canela e sirva quente.

Bom apetite!

Boas Festas

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cavalas com molho de vilão

Considerado por alguns pescadores, sobretudo no continente, como uma espécie de segunda categoria, a cavala constitui um pitéu para os madeirenses. Na realidade, é um peixe dotado de uma carne saborosa e rico em gorduras saudáveis. A acompanhar o molho vilão, utilizado na Madeira para temperar os bifes de atum e os chicharros fritos.

Ingredientes:

4 Cavalas
4 dentes de alho
Oregãos, pimenta e sal q.b.
3 dl de vinho branco
1 dl de vinagre branco
1 cebola
2 c. (sopa) de azeite

Corte as cavalas em dois e deixe sangrar em leite durante uma hora. Retire, lave e tempere com sal, alhos picados, oregãos e a pimenta. Regue com o vinho branco previamente misturado com o vinagre e deixe a marinar pelo menos três horas. Depois, frite o peixe em azeite bem quente e reserve num prato com papel absorvente. Deixe arrefecer um pouco a frigideira e adicione a marinada com a cebola cortada finamente às rodelas até ferver e apurar. Coloque o peixe numa travessa e regue com o molho. Sirva com semilhas cozidas (ou milho cozido) e com uma salada de alface e tomate.

Bom apetite!

O que é a gastronomia?


Quando criei este blogue em 2007, tive única e exclusivamente o propósito de defender, divulgar e promover os aspectos da gastronomia madeirense, que reafirmo, é rica e diversificada, e que, felizmente, não se esgota em dois ou três pratos, como muita gente quer fazer querer.
A razão pela qual, pertenço a uma confraria gastronómica, vai muito além da ideia de uma simples confraternização entre amigos, que se reúne mensalmente, para degustar alguns pratos, predominantemente tradicionais. A isso poderia chamar tertúlia. Efectivamente, é mais do que isso.
Tive um dia a oportunidade de participar como conferencista, em representação da Confraria Gastronómica da Madeira, num congresso de gastronomia, promovido pela Direcção de Turismo dos Açores, em Ponta Delgada, na qual participaram algumas figuras de relevo da sociedade portuguesa, entre os quais, o Dr. Daniel Serrão, então dirigente da Liga dos Amigos da Saúde e do Vinho (LASVIN), e o Dr. Francisco Sampaio, presidente da Região de Turismo do Alto Minho, mentor dos "Domingos Gastronómicos" que envolveu 350 restaurantes locais.
Na sua intervenção, sobre as qualidades do vinho na saúde, o Dr. Daniel Serrão, deixou bem claro que as confrarias gastronómicas "não eram grupos de pessoas que se reuniam à mesa para comer e beber à bruta, mas pessoas cujo papel visava a promoção de uma herança cultural baseada na gastronomia".
Há poucos dias, ao percorrer o site da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, deparei-me com um escrito formidável, assinado por Vergílio Gomes, da ARESP, datado de Agosto de 2008, no qual, a dada altura, define sabiamente o que é gastronomia. E com a devida vénia passo a citar: "Gastronomia é cada vez mais um fórum rigoroso, simples e significativo que revela a expressão de associabilidade, que transforma a satisfação de uma necessidade de consumo, numa acto de convivialidade. Como já referi a gastronomia pode ser um elemento diferenciador de um destino turístico, e portanto, a sua identificação. Gastronomia tem o risco de ser uma arte efémera que apela a vários sentidos, dependendo do humor individual, e da respectiva educação do gosto, e é também função das expectativas. Gastronomia é uma referência cultural e identificada nos aspectos geográficos, religiosos, económicos, artísticos e patrimoniais. É também através das artes culinárias que se pode conhecer um local e o seu povo".
Posto isto, sendo a Madeira uma região de turismo, vou continuar a utilizar este espaço para a defesa da sua herança cultural gastronómica, para a divulgação das suas produções e para a promoção do destino turístico.

Broas de mel

O receituário tradicional madeirense, no que concerne à vertente da doçaria, fica mais rico com a apresentação das broas de mel, feitas por ocasião da Festa. Normalmente acompanham na degustação dos tradicionais licores da época e com Vinho Madeira.

Ingredientes:
2 dl de mel de cana
750 g de açúcar
1 kg de farinha
4 c. (chá) de soda
5 c. (chá) de canela moída
100 g de margarina
100 g de banha de porco
Raspa de limão

Depois de bem misturados todos os ingredientes, faça pequenas bolas do tamanho de uma noz e coloque separadas num tabuleiro previamente untado. Leve ao forno bem quente por 10 minutos. Deixe arrefecer e guarde num recipiente tapado ou em saco de plástico, em local seco.

Bom apetite!

História do Vinho Madeira


A Ilha da Madeira foi descoberta em 1419, tendo-se desde logo desbravado terras e ocupado solos com cultura de trigo, vinha e cana. A história do Vinho Madeira começa aqui e vai acompanhar ao longo dos séculos o desenvolvimento da própria ilha. Registos históricos demonstram que 25 anos após o início da colonização, as exportações de Vinho Madeira eram já uma realidade!
Mais de cinco séculos de existência, permitem contar uma história de internacionalização que passa pelas mais diversificadas rotas de exportação, consoante as conjunturas internacionais, em que, a par das exportações para Europa, o grande destaque vai para as rotas com destino às Índias e Américas, entre os sécs XVI e XVIII, que no último caso se mantêm até aos nossos dias. A fama e prestígio deste Vinho, podem ainda ser atestados por inúmeros episódios, entre os quais, a celebração da independência dos Estados Unidos, em 1776, que foi comemorada com um brinde de Vinho Madeira!
Ao longo dos séculos os processos de produção vão-se alterando e aperfeiçoando. No século XVIII é introduzido o método de envelhecimento conhecido por estufagem, que irá caracterizar definitivamente o Vinho Madeira, até aos nossos dias.
Muitas foram as personalidades, estadistas e personagens míticas que se deixaram deslumbrar por este Vinho, de que são exemplos, emblemáticos, George Washington e Thomas Jefferson, que eram profundos conhecedores de Vinho Madeira ou Winston Churchil que nas suas visitas à ilha teve oportunidade de o conhecer e apreciar. Mas são também conhecidas as referências ao Vinho Madeira em obras literárias tais como as de Sheakpeare.
O Vinho Madeira nasce para o mundo e a sua história é marcada pela sua passagem nas mais variadas partes do globo, onde continua a ser admirado e reconhecido.

Fonte: IVBAM

Vinho Madeira: E o Natal acontece


Celebrar e brindar o Natal com algo de tradicional, mas de uma forma menos habitual, é o que propõe o Instituto do Vinho, Bordados e Artesanato da Madeira com a sua nova campanha para o Vinho Madeira.
A campanha, denominada “Vinho Madeira: E o Natal acontece”, pretende transmitir uma imagem renovada, na continuidade da campanha lançada durante o Verão. As imagens são feitas numa praia, com uma árvore de Natal em fundo. Um ambiente não muito usual mas apelativo em termos de atrair públicos mais jovens e da introdução do vinho em ambientes que se calhar não eram muito comuns.
Já é tradição fazer estas campanhas, direccionadas principalmente para o mercado regional. Começaram há seis anos com cariz mais tradicional e mais ligado ao sector do vinho e foram evoluindo gradualmente, até chegarem ao dia de hoje de uma maneira mais incisiva e ecléctica em relação ao mercado. Esta campanha vem assim, na sequência da anterior campanha realizada no Verão, reafirmar a filosofia de tentar aproximar mais o Vinho Madeira do consumidor, principalmente da faixa etária mais jovem, indicando ao mesmo tempo que o consumo do Vinho Madeira se pode realizar em qualquer altura do dia e/ou ano e não só como aperitivo e digestivo e acompanhado de certos e determinados pratos. Tudo isto, feito sem retirar todo o peso histórico, tradicional e único que o Vinho Madeira tem.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Peixe-espada de cebolada

O peixe-espada preto, quase peculiar dos mares profundos da Madeira, onde vive em grandes quantidades, é colhido quase em exclusivo pelos pescadores de Câmara de Lobos. A sua forma, achatada e estreita assemelha-se a uma espada, sendo muito utilizado na gastronomia madeirense em caldeirada, assado, cozido, frito ou grelhado às postas e em filetes. Deixo aqui uma proposta simples que pode ser confeccionada todo o ano, visto que peixe-espada não falta por estas bandas.

Ingredientes:

4 postas de peixe-espada
2 dentes de alho
sumo de 1/2 limão
6 c. (sopa) de azeite
3 cebolas
sal e farinha qb

Começe por limpar as postas de peixe e depois tempere-as com o alho, sal e o sumo de limão. Envolva-as em farinha e frite-as em óleo bem quente. À parte, refogue com o azeite, em lume brando, as cebolas em rodelas finas, até alourarem completamente e sem queimarem. Por fim, deite este preparado sobre o peixe e sirva, acompanhado por legumes e semilhas cozidas e cortadas às rodelas.

Bom apetite!

Peru da Consoada


Até na gastronomia, a globalização fez com que fossem introduzidos novos pratos na quadra festiva que celebramos. Muito por força das grandes superfícies comerciais de distribuição alimentar, o peru apresenta-se à mesa dos madeirenses com mais frequência. Para não variar, na Festa, passou a ter o seu espaço ao lado de outros pratos regionais. Há muitas formas de confeccionar o peru de Natal, mas esta receita, testada há alguns anos, foi bem acolhida pelos comensais.

1 cabeça de alho
1 chávena de amendoin
1 c. (sopa) de sopa
150 g de bacon
1 cebola grande
6 cravinho da Índia
Rodelas de limão
50 g manteiga
150 g pão ralado
1 peru
12 grãos de pimenta em grão
200 g de carne porco moída
150 g queijo Emmental
1 raminho de tomilho

De véspera prepare o peru inteiro, lave-o muito bem e coloque-o num recipiente com água abundante e junte bastantes rodelas de limão, uma cabeça de alho esmagada, cravinhos-da-Índia, uma mão cheia de sal grosso e 12 grão de pimenta preta. Cubra com plástico aderente e deixe marinar no frigorífico. No dia seguinte pique muito bem a cebola, 2 dentes de alho, o bacon, e os amendoins. Refogue a cebola, o alho e o bacon no azeite, até alourar. Retire do lume e acrescente a carne de porco moída, o tomilho picado, o queijo ralado, os amendoins, o pão ralado e as raspas de limão, mexendo vigorosamente para que a mistura fique mais ou menos homogénea. Recheie o peru com este preparado e coza a entrada do peru com agulha e fio culinário. Coloque-o num tabuleiro untado, pincele com manteiga derretida e leve ao forno a assar durante 3 horas, a 180º. Sirva morno, acompanhado com semilhas, cenouras e bróculos cozidos.

Bom apetite!

Bolo Preto


O mel de cana sacarina produzido na Fábrica de Mel do Ribeiro Sêco tem certificado de qualidade e é um dos produtos regionais mais apreciados na doçaria madeirense. Ainda há pouco tempo, a fábrica lançou um livro de receitas com mel de cana, da autoria do Chefe Octávio Freitas e iustrado pelas fotos de Rui Silva. A receita que aqui deixo, foi recolhida pela Confraria Gastronómica da Madeira e publicada no seu livro "Sabores - receitas tradicionais madeirenses", tendo sido atribuída ao concelho da Ribeira Brava. O Bolo Preto é uma das iguarias da doçaria regional que mais se apresenta à mesa nesta quadra festiva.

Ingredientes:

500 g de açucar
250 g de manteiga
2 dl de leite
4 ovos
10 g de soda
1/2 noz-moscada ralada
raspa de um limão
2,5 dl de mel de cana
500 g de farinha
25 g de banha
1 cálice de Vinho Madeira
1 c. (chá) de canela
2 dl de cerveja preta
300 g de frutos secos ou cristalizados

Ligue o forno a 170 graus e unte com manteiga uma forma redonda. Forre com papel vegetal, que também deve ser untado e reserve. De seguida, derreta a manteiga e a banha num tacho e reserve. À parte, misture o leite com a cerveja, o mel e o vinho. Depois, adicione os ovos, um a um, seguidos da manteiga e da banha derretidas. Numa outra tigela misture, sem bater, o açucar com a soda, a noz-moscada, a raspa do limão, a farinha, a canela e os frutos secos partidos em bocadinhos. Verta o líquido anterior sobre esta mistura e envolva bem, até homogeneizar. Deite na forma e leve ao forno durante uma hora. Desenforme morno.

Bom apetite!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Estudo revela que comer pouco é o modo mais eficaz de ter vida mais longa

Comer pouco é o modo mais eficaz para ter uma vida mais longa, segundo um estudo de cientistas japoneses que a revista Nature divulga no seu último número.
A conclusão resulta do estudo do efeito que tem a enzima RHEB-1 na duração da vida e de como este componente se altera em função da ingestão calórica de cada indivíduo.
A investigação realizou-se com uma espécie de minhoca, mas a equipa da Universidade de Quioto que fez o estudo, dirigido pelo professor Eisuke Nishida, afirma no trabalho que a teoria é também aplicável aos mamíferos em geral.
Segundo o estudo, "a restrição alimentar é a intervenção mais eficaz e mais reproduzível para alargar a esperança de vida em espécies completamente diferentes".
Nos mamíferos, asseguram os investigadores, constatou-se a existência de dois regimes alimentares que têm uma clara incidência quanto ao prolongar da vida e na redução do número de problemas de saúde relacionados com o envelhecimento.
O primeiro é o "jejum intermitente", que de acordo com a investigação pode aumentar os anos de vida, inclusive nos casos em que a redução de ingestão de calorias é escassa ou mesmo inexistente.
O outro é "a restrição calórica crónica", que implica uma redução constante e continuada dos alimentos ingeridos e que também influi na citada enzima, cujo mecanismo subjacente de funcionamento continua a ser um mistério.
Os cientistas da Universidade de Quioto utilizaram minhocas da espécie "Caenorhabditis elegans" e poderam comprovar que aquelas que deixavam de comer durante dois dias aumentavam a sua longevidade em cerca de 50 por cento.
Além disso, as minhocas que jejuavam a cada dois dias eram mais resistentes aos processos de "stress oxidativo" e mostravam menos sintomas de declínio físico relacionado com o envelhecimento que os seus congéneres a quem se permitiu comer quanto quisessem.
A conclusão é indicativa de que comer pouco, jejuando de vez em quando ou reduzindo as calorias que se consomem, prolonga a vida, devido à influência que tem em vários processos como a resistência do organismo ao stress, o controlo da qualidade das proteínas e a integridade da carga do genoma.

Lusa

Semilhas com conduto de carne de porco

Do concelho da Ribeira Brava recolhemos esta receita que, igualmente por ocasião do Natal, merece aqui uma nota de destaque da gastronomia tradicional madeirense. Trata-se de um prato que pode ser confeccionado nos dias da Festa, proporcionando uma alternativa a quem precisa apresentar como iguaria em casa. Infelizmente, já não se encontra na oferta dos nossos restaurantes, pelo que, em casa, com familiares e amigos, constitui uma excelente opção e de fácil confecção.

Ingredientes:

900 g de carne de porco (entremeada)
3 cebolas
700 g de semilhas
2 pimentas
2 c. (sopa) de banha
1 c. (sopa) de colorau
2 folhas de louro
5 dentes de alho
3 tomates

Leve uma panela ao lume, com água temperada de sal e pimentas. Mergulhe a carne e deixe cozer por 40 minutos. Retire-a então do caldo e reserve. Junte as semilhas cortadas em meias luas e coza-as.
Depois de cozidas retire-as e reserve. Entretanto, corte a carne em pedaços pequenos e frite-os ligeiramente numa frigideira com a banha bem quente. Depois de estar dourada, adicione os alhos laminados, a cebola picada grosseiramente e o tomate em cubos. Deixe refogar. Tempere com o colorau e rectifique o sal. Adicione as semilhas e polvilhe com salsa picada. Sirva numa travessa.

Bom Apetite!

Dicas e conselhos - Vinho e Comida


Se servir vários vinhos numa mesma refeição, deve começar pelo mais leve e fraco e acabar pelo mais forte e encorpado. O vinho que vai servir deve estar em harmonia com a comida que acompanha: os vinhos suaves devem acompanhar pratos pouco temperados e os vinhos fortes e encorpados convêm mais aos pratos pesados e temperados.

Entradas
Com as entradas deve ser servido vinho branco seco, vinho verde branco, vinhos generosos secos ou ainda vinhos espumosos secos.

Sopa
Com sopa é clássico 'molhar-se a boca' com generosos secos. No entanto, os vinhos rosados e os espumosos podem servir de vinho único ao longo de uma refeição.

Mariscos
Os mariscos servem-se, normalmente, com o mesmo vinho servido para os aperitivos (vinho branco seco ou verde) ou, se forem acompanhados por molhos picantes, com vinho branco suave, adamado.

Saladas e escabeches
Aos pratos avinagrados, como saladas muito temperadas ou escabeches, não convém nenhum tipo de vinho.

Peixes
Com peixe serve-se normalmente o mesmo vinho que serviu para os aperitivos (vinho branco seco ou verde). Se forem servidos com molhos picantes, aconselha-se um vinho branco suave, adamado.

Peixe estufado e caldeiradas
Com peixe estufado ou em caldeirada, convém apresentar vinhos tintos ligeiros (ou mesmo encorpados, se a caldeirada for picante).

Carnes frias
Com carnes e aves frias serve-se vinho branco adamado ou tinto ligeiro.

Massas
Com massas, legumes, arroz e ovos servem-se vinhos brancos adamados ou tintos ligeiros.

Carnes vermelhas e caça
As carnes vermelhas e a caça, assadas ou guisadas ou em pasta (tortas recheadas, empadas), servem-se acompanhadas por vinho tinto encorpado. As carnes assadas também combinam com vinhos espumosos secos.

Carnes grelhadas
Com carnes grelhadas ou assadas (desde que sem molho) serve-se vinho tinto leve.

Chanfana
Um prato confeccionado com um determinado vinho serve-se sempre acompanhado pelo vinho utilizado na sua preparação.

Queijos
Com queijos fermentados (crus) servem-se vinhos tintos fortes. Queijos de pastas cozidas (tipo gruyére) pedem vinhos tintos mais leves. Com queijos frescos servem-se vinhos brancos suaves.

Doces
Com doces não alcoolizados servem-se vinhos doces brancos, espumosos doces ou ainda generosos doces e meio-doces. Com doces confeccionados com licores ou aguardentes, só devem servir-se as bebidas utilizadas na sua preparação.

Fruta
Com fruta nunca se servem vinhos.

Café
Com café devem servir-se aguardentes.

Fonte: lusowine

Peru com castanhas


As castanhas da Madeira são apreciadas pelo seu sabor adocicado, e podem servir de complemento na confecção de alguns pratos principais, nomeadamente de carne de porco e aves. A sugestão que deixo hoje, visto estarmos próximo do Natal, permite enriquecer o cardápio a apresentar aos familiares e amigos.

Ingredientes:

1 peito de peru (cerca de 600 gramas)
6 dentes de alho
1 c (sopa) de colorau
sal e pimenta (qb)
1 c (sopa) de azeite
3 dl de vinho verde
300 g de castanhas
erva-doce
1 cenoura
Passas

Começe por misturar os dentes de alho esmagados com o colorau, sal, pimenta, azeite e o vinho. Dê uns golpes ao longo da carne e regue com o tempero. Coloque num tabuleiro e leve a assar no forno a 200º C, regando periodicamente a carne com o molho. Descasque as castanhas e coza-as em água temperada com sal e erva-doce (pode utilizar castanhas congeladas). Sirva a carne cortada às fatias finas, acompanhada com as castanhas e a cenoura ralada, polvilhada com as passas.

Bom apetite!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Duarte Caldeira lança novo vinho de mesa "Terras do Avô"

O empresário madeirense Duarte Caldeira prepara-se para lançar um novo vinho de mesa na Região Autónoma da Madeira. Depois de vender a sua quota na Seiçal - Sociedade Produtora de Vinho do Seixal, o empresário fez uma outra com os filhos à qual chamou “Duarte Caldeira e Filhos - Seixal Wines, Lda.”
O objectivo é produzir vinhos de grande qualidade, feitos de uvas seleccionadas para competir com os melhores vinhos do mercado.
A nova produtora de vinhos já tem marca comercial para os vinhos tinto e branco que passará a comercializar, chama-se “Terras do avô”, que, segundo Duarte Caldeira, pretende homenagear a cadeia de avôs que está na origem das suas terras, que vêm do seu avô, e que as ligam ao próprio empresário que já é avô, com todas as cadeias intermédias que ligam a este parentesco. Ou seja, envolve quatro gerações.
Neste momento, já está a fazer o primeiro vinho. Um branco que estará no mercado em Fevereiro ou Março de 2009.
Trata-se de um “Terras do avô”, branco, 2008, com 12,5 graus, do qual será lançado cerca de cinco mil garrafas.
Seguir-se-á um tinto, com todas as castas tintas que produz, sendo, segundo o prOdutor, mais de metade Touriga Nacional, e também com Merlô, Sirah, Tinta Roriz ou Aragonês e Cabernait Sauvignon. “Terras do avô”, tinto, de 2008, com 13 graus, do qual prevê produzir 6.500 garrafas.
Posteriormente, o projecto incluirá um outro vinho, um “Terras do avô”, reserva, tinto, com duas castas: 70% de Sirah e 30% de Tinta roriz ou Aragonês. Prevê lançar cerca de três mil garrafas deste reserva com 14 graus, que sublinha ser a primeira vez que se produzirá um tinto na região com esta graduação.
Este vinho já está a estagiar em barricas de carvalho francês.
Todos os vinhos da Seixal Wines são feitos nas Adegas de São Vicente, sendo as vinhas do Seixal.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Dourada da Madeira no forno


Porque o Natal está à porta e as iguarias para receber bem os amigos e familiares em casa devem ser feitas com carinho e bem guarnecidas, deixo aqui uma sugestão diferente, aproveitando a oferta de Dourada da Madeira a bom preço e de fácil preparação.

Ingredientes:

4 Douradas limpas
1 kg de semilhas cozidas
150 g de bacon
3 cebolas
2 dentes de alho
1 dl de azeite
5 tomates maduros
oregãos
sal
pimenta
1 dl de vinho branco

Numa panela refogue no azeite quente o bacon em pequenas tiras, as cebolas cortadas e o alho. Depois de envolver, adicione o tomate cortado às rodelas e tempere com o sal, pimenta e os oregãos. Deixe cozinhar por 10 minutos. Enquanto isso, disponha o peixe num tabuleiro, de referência de barro, e por cima estenda o refogado. Regue com o vinho branco e leve ao forno por 20 minutos. Sirva com as batatas cozidas e cortadas às rodelas. Pode ainda acompanhar com bróculos e cenoura.

Bom apetite!

Miguel Fernandes

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Candidatura à UNESCO

Todos os votantes da sondagem deste blogue manifestaram-se favoráveis a uma candidatura do receituário tradicional madeirense a património da UNESCO. Ainda que sejam cada vez mais raros, os pratos tradicionais da Madeira, alguns confeccionados da mesma forma há muitos anos, bem que podiam ser candidatos a património cultural. A ideia está lançada e bem aceite. Aproveito para agradecer a participação na votação que

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Na Madeira o Natal é a Festa


Os madeirenses são fiéis cumpridores das tradições natalícias, desde a decoração do pinheiro em casa, na confecção das iguarias típicas da quadra festiva, até aos rituais religiosos. Dos costumes pagãos aos religiosos, o madeirense tem sempre algo a dizer e a fazer. A Madeira sempre viveu com intensidade a quadra natalícia, denominada como "A Festa".
No Funchal, os preparativos da Festa tiveram início a meados de Novembro, com a iluminação de Natal, transformando a capital madeirense num autêntico presépio, com ruas enfeitadas e coloridas, obrigando de certa forma os lojistas a acompanhar a decoração nas montras. Em Dezembro, os trabalhos passam pela decoração das praças com flores, nomeadamente com manhãs de Páscoa, azevinho e sapatinhos. A juntar-se a isto, a placa central da Avenida Arriaga transforma-se por completo, convidando, não apenas os locais, mas sobretudo os forasteiros a celebrar o Natal, com todas as suas componentes, num trabalho etnográfico de apreciável qualidade.
Na realidade, as manifestações festivas nas ruas do Funchal surgiram na década de 30. Em 1932, foi criada uma Comissão das Festas da Cidade, que “tinha por missão coordenar todas as actividades de diversão”. Um organismo que viria a ser extinguido após a constituição do Governo Regional e da Secretaria Regional do Turismo, instituição que chamou a si a organização do Natal e Fim-de-Ano madeirense.
Hoje, sendo a Madeira uma Região turística, a convivência entre os locais e os estrangeiros é constante. 
Tal como antigamente, o Natal continua a ser a festa da família. No início de Dezembro, preparam-se todos os ingredientes para a Festa e marca também o início das missas do parto, que logo às primeiras horas da madrugada, reúne em cada paróquia centenas de pessoas, num convívio animado, dentro e fora da igreja, sendo tradicional a degustação de sandes de carne vinha d'alhos e canja, acompanhadas por vinho, licores ou cacau.
Em casa, é tempo das tradicionais limpezas, que incluem em muitos casos, a pintura interior das casas, para a recepção de familiares de outras zonas da ilha. É também no início de Dezembro que se prepararam os bolos e broas de mel, e ultimam-se os licores de diversos sabores. É igualmente a partir da primeira semana que se cumprem os rituais da função da morte do porco.
O ritual reúne vários elementos de uma prole, vizinhos e amigos, cada qual com uma função específica que vai desde a simples condução do animal entre o chiqueiro e a zona onde ocorrerá a morte, até ao corte da carne. Uma parte será para consumo ainda durante as festividades natalícias, mas o maior naco será cortado e salgado para conservação. Antes que o sangue coagule, deitam sal e benzem com um sinal de cruz, com uma faca, para que ninguém dê " mau olhado". Devidamente temperado com salsa e alho, o sangue é cozido e servido de seguida como dentinho (petisco) acompanhado por vinho seco ou aguardente, enquanto o porco é desamarrado e coberto por giesta ou urze para chamuscar o pêlo de ambos os lados. O recurso ao maçarico facilita a tarefa. Arrefecem com panos molhados, raspam a pele com utensílios laminados e lavam a carcaça. 
O porco é pendurado de cabeça para baixo para ser aberto ao meio, preso pelas patas traseiras, junto aos tendões. Com recurso a uma faca afiada e com um corte meticuloso, retiram o intestino e os restantes órgãos, como o coração, os pulmões e o fígado. Parte das carnes cortadas e das miudezas, servem para a refeição do final do dia. Uma espetada de carne com osso, e carne na panela, são confeccionados para todos os presentes que acompanham com pão caseiro, semilhas cozidas com casca temperadas com oregãos e o inhâme, sem faltar o vinho da casa.
 Enquanto todos confraternizam um dos elementos, o mais experiente no corte, procede à picada (corte e divisão): a febra para a carne vinho d'alhos do Natal, e a restante carne será salgada, incluindo a cabeça, as patas, as orelhas, a língua e o rabo. As tripas servem para os enchidos (bucho) e a banha é derretida para guardar e utilizar nos preparos da cozinha.
A noite do dia 23 de Dezembro tem passagem obrigatória pelo Mercado dos Lavradores, no Funchal. Em ambiente festivo, milhares de pessoas passeiam-se pelo interior e exterior do mercado, uns às compras de última hora, das frutas e legumes da época, de plantas para arranjos florais, enquanto a maioria procura simplesmente o convívio. As barracas de comes e bebes, estendem-se pelas ruas, circundantes ao mercado, fechadas ao trânsito. Canja de galinha, sandes de carne assada e de vinho d'alhos, fazem a alegria de todos.
Na noite de Natal, a missa do Galo é tradicionalmente participada por milhares de fiéis. No regresso a casa, trocam-se os presentes e servem-se em ambiente familiar a canja de galinha e bolos da festa.
No dia de Natal, a tradição gastronómica da Madeira revela-se diferente do restante território. Logo ao pequeno almoço, servem-se sandes de carne vinha d'alhos e cacau. Ao almoço, a galinha no forno e o lombo de porco assado, assumem a preferência dos madeirenses. Por norma, são escolhidas as melhores galinhas de casa, preparadas de véspera. O bacalhau e o peru têm ganho o seu espaço, sobretudo nas gerações mais novas e por influência das grandes superfícies de distribuição alimentar.
A 26 de Dezembro, "Primeira Oitava", manda a tradição que toda a família conviva numa das suas casas, num repasto em que voltam a entrar as carnes de porco, nomeadamente a carne vinha d'alhos, com semilhas cozidas e legumes. A variedade gastronómica depende muito da produção caseira e da localidade. A carne de vaca assada, o peru, o peixe-espada preto e o bacalhau também compõe o menu do dia.
O Natal, ou a Festa, mantêm o seu espírito intacto, com mais ou menos consumismo. As tradições ainda vivem, com uma ou outra mutação, nas ruas ou em casa.

Miguel Fernandes

Sucesso na alta cozinha depende cada vez mais da ciência


Uma bebida com várias camadas que só se misturam na boca ou um gelado branco com um intenso sabor a morango são propostas de cozinheiros que procuram na ciência técnicas culinárias inovadoras para transformar a refeição num espectáculo.
Nos últimos dez anos, por influência de novidades introduzidas pelo catalão Ferran Adrià, considerado o melhor cozinheiro do Mundo, a alta cozinha tem evoluído para técnicas antes limitadas aos laboratórios.
Da esferificação (transformação em bolinhas de líquidos como vinhos ou sumos) ao encapsulamento de sabores (concentração de um aroma através das moléculas) ou da utilização do azoto líquido (a 196 graus negativos, permitindo congelar produtos em segundos) à destilação por arrastamento de vapor (para extrair óleos essenciais de determinado alimento), os "chefs" da alta cozinha procuram inovar para proporcionar novas experiências e emoções ao cliente.
Paulina Mata, professora do departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, tem desenvolvido o seu trabalho na área da gastronomia molecular, colaborando com vários cozinheiros portugueses interessados nas novas técnicas que, defende, ainda estão pouco exploradas.
"Algumas pessoas assustam-se quando se fala em ciência e cozinha, mas a química está sempre presente" até porque cozer ou assar um alimento significa submetê-lo a um processo químico que vai transformar as suas propriedades, textura ou sabores, explicou Paulina Mata à agência Lusa, à margem do 10º congresso "O Melhor da Gastronomia", que reúne dezenas dos mais conceituados cozinheiros do Mundo, em San Sebastián, até quinta-feira.
A investigadora acredita que a cozinha actual não está muito longe do que se fazia na Idade Média e alerta que algumas das técnicas utilizadas no quotidiano, como fazer uma carne bem grelhada ou um pão bem torrado, "não passariam os testes de qualidade".
"Fazem-se coisas muito irracionais, há processos lentos, muito trabalhosos e que retiram grande parte do sabor. Existem processos muito mais eficientes", acrescenta.
É aqui que um cientista pode entrar na cozinha: a colaboração entre cientistas e cozinheiros pretende garantir que a alimentação é mais segura e mais correcta em termos dietéticos, obter melhores texturas e sabores e introduzir novas técnicas que não se utilizavam antes, sublinha a investigadora, responsável por sessões de divulgação e "workshops" sobre gastronomia molecular da Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica.
Enquanto um cozinheiro procura descobrir novas receitas e técnicas ao fim de inúmeras experiências, o cientista pode explicar-lhe por que razão os alimentos se comportam de determinada forma, simplificando assim os processos.
"Um ovo cozido a 68 graus fica diferente de um cozido a 70 graus. O cozinheiro pode chegar lá por tentativa e erro, mas a ciência pode dar essa resposta, porque há um conhecimento científico por trás", refere Paulina Mata.
Algumas das técnicas que actualmente já entraram nas cozinhas permitem criar géis líquidos, que não se misturam no copo mas na boca. O resultado pode ser um chá com uma metade quente e outra metade fria ou uma bebida com várias camadas perfeitamente diferenciadas.
O azoto líquido é um recurso já algo comum para muitos cozinheiros, que o utilizam, por exemplo, para criar um gelado em escassos minutos, "que tem características melhores que os gelados feitos por processos usuais, já que o azoto não introduz qualquer alteração ao alimento", segundo Paulina Mata.
A apresentação de vinhos ou sumos em bolinhas sólidas por fora e líquidas por dentro pode causar um grande espanto entre o público, mas a docente garante que o processo é semelhante à realização de uma gelatina, muito mais simples que "cozer um ovo", defende.
A destilação por arrastamento de vapor ou a pressão reduzida são processos "que se fazem muito nos laboratórios", mas que alguns cozinheiros já conhecem, permitindo extrair óleos essenciais ou aromas.
Outro exemplo é o encapsulamento de sabores, com que é possível apresentar um alimento com um aspecto totalmente distinto do usual, mas mantendo o seu sabor - como é o caso de uma sobremesa composta por um gelado branco com um fortíssimo sabor a morango, servido com uma gelatina vermelha com a aparência de morangos em calda, mas com sabor a chocolate branco.
"A alta cozinha pretende provocar sensações e emoções diferentes", até porque comer "já não é só uma necessidade, é um lazer e um acto social, como ir à ópera", aponta Paulina Mata.
"Se eu pago 500 euros por uma refeição, não é para me darem aquilo que como todos os dias em casa", defende.
No entanto, adverte a especialista, ainda estamos longe de ver as cozinhas transformadas em laboratórios: "actualmente estamos numa fase de alguma reacção e rejeição a técnicas que ainda não estão completamente exploradas".

Lusa

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Depois de alguns meses de interregno, volto a actualizar este espaço, com a promessa de dotar com mais informação sobre gastronomia madeirense um blogue que já ganhou a simpatia de muitos amigos. Espero continuar a merecer a preferência daqueles que defendem e promovem esta herança cultural.
Um abraço
Miguel Fernandes