terça-feira, 7 de abril de 2009

Tradições da Páscoa



A tradição religiosa de celebrar a Páscoa, assemelha-se um pouco por todo o país, mas é em termos culturais e gastronómicos que se acentuam as diferenças. Por cá, a tradição leva à mesa um receituário tradicional, à base de carne, com predominância para o cabrito guisado e para a carne Santa (porco) de peixe, com destaque para o bacalhau assado, e para uma doçaria na qual predominam os torrões de açucar com frutas. A herança cultural gastronómica da Madeira foi beber na sabedoria conventual a utilização da amêndoa para a confecção de saborosas iguarias à base deste fruto, nomeadamente os bolos e doces, possíveis de encontrar apenas em algumas casas. De resto, e por influência directa das grandes superfícies que nos últimos anos, se instalaram na Madeira, os madeirenses têm vindo a adoptar novos costumes na confecção de alguns pratos.
No resto do país, sobretudo no norte, pontuam os folares, como um dos principais rituais da Páscoa. Esta iguaria, à base de farinha, aproxima-se da confecção do pão, reflecte a diversidade de uma região de terra farta e rica e de ocupação humana grande. Ali comem-se folares doces e folares gordos. Por exemplo, em Vila do Conde e na Maia, o folar doce, designa-se por pão-doce ou mesmo por broinhas. Na Madeira, temos o bolo doce, iguaria tradicional da Ponta do Sol, que se aproxima do pão-doce por recorrer em grande parte aos mesmos ingredientes, nomeadamente a erva-doce.
No roteiro gastronómico da Páscoa é possível encontrar diversas formas de apresentação do folar, em Oliveira de Azemeis. Nesta localidade o folar assume a forma de uma galinha deitada sobre uma noz ou de duas, bico com bico, cobrindo dois figos passados.
Já em Trás-os-Montes, terra dura e áspera o folar doce é raro, dando lugar ao folar gordo, de carne. Trata-se de uma bola feita à base de farinha, ovos e carne de porco ou outras carnes. Na Madeira não há tradição de fazer bola de pão com carne.
No Minho e no Grande Porto, o pão-de-ló substitui o folar, cujo receituário fica muito próximo do bolo feito em Sao Vicente e no Porto Santo. Na região minhota e alto duriense o costume pascal inclui comer carne de bovino e frango, assado na assadeira grande, de barro vidrado de Barcelos, vindo depois, à sobremesa, o pão-de-ló de Margaride e as amêndoas. Próximo à fronteira com Espanha fazem-se os borrachos, que são fritos com base em pão ralado, açúcar, ovos e canela.
Na Região centro, nas Beiras, o folar é comum em quase toda a região. O bolo de massa seca, condimentado com canela e erva-doce, é encimado por um ou vários ovos cozidos inteiros. Nesta região surgem ainda os Bolos da Páscoa. Na Covilhã, ganham o nome de empenadinhas da Páscoa. Noutras regiões encontram-se as broinhas e os bolos ou pão de azeite.
Já na beira Litoral, a carne está representa na chanfana, nomeadamente em Coimbra, ou no leitão assado, naturalmente aproveitado para festejar a época.
Na região Sul, apresentam-se os folares alentejanos. Próximo a Elvas, os folares apresentam formas de animais, representando borregos, lagartos, pintainhos e pombos. Por seu turno, no Alto Alentejo, em Castelo de Vide, o folar assume a forma de um duplo coração recamado de ovos e decorado com motivos feitos da mesma massa. Um grande lagarto, com coleira de seda encarnada e lacinho igual na cauda.
Na mesa predominam as carnes. O cordeiro, mais conhecido por borrego no Alentejo, aparece em todo o país.
De resto, em termos religiosos, na Diocese do Funchal, os domingos que antecedem a festa do Pentecostes, são marcados pelas visitas pascais, que também são denominadas de visitas do Espírito Santo. Aqui, têm ritos próprios que, contudo, podem variar consoante as tradições das respectivas paróquias, mas cujos símbolos são idênticos em todas as comunidades. Acompanhando também os elementos que efectuam as visitas pascais, vão as “saloias” meninas com trajes típicos madeirenses e que interpretam cânticos alusivos ao Espírito Santo. Transportam cestinhos com flores que também servem para recolher os doces e outras guloseimas que lhes são oferecidas. Há localidades em que o grupo é acompanhado por instrumentos musicais.
Os objectivos destas visitas são, entre outros, levar a alegria pascal, anunciando Jesus Ressuscitado, abençoar as famílias, manter uma presença da Igreja no ambiente familiar e proporcionar um melhor conhecimento da realidade paroquial.