sábado, 26 de dezembro de 2009

Bolo de mel é "ex-libris" da doçaria madeirense


O bolo de mel da Madeira, feito à base de farinha, mel de cana sacarina e especiarias, constitui umas das iguarias mais apreciadas da doçaria madeirense, em particular no Natal, calculando-se que existam mais de 200 receitas diferentes.
Confeccionado ao longo do ano em pastelarias e confeitarias da Madeira, o bolo de mel adquire um sabor tradicional quando feito em casa, com recurso a receitas que remontam aos primórdios da colonização da ilha, no século XV.
Entusiasta da confecção anual de bolos de mel, Cristina Marta, 38 anos, educadora de infância, abriu-nos a porta da sua casa e demonstrou como se faz a iguaria que constitui o "ex-libris" da doçaria da Madeira.
A receita de bolo de mel é antiga, tem cerca de 200 anos e está escrita à mão num pequeno caderno de cozinha, que apenas é aberto para ocasiões especiais e quando a memória falha.
Desta vez, Cristina Marta optou por triplicar a receita (cerca de três quilos de massa) e confeccionar 35 bolos, todos para consumo doméstico e para prendas entre a família.
Picadas as nozes, as amêndoas e as cidras (citrinos cristalizadas), Cristina Marta começa por deitar num tacho grande a farinha, o bicarbonato de sódio e depois mistura as especiarias, que conferem ao bolo um paladar peculiar e garantem a sua conservação por cerca de um ano.
À medida que deita no alguidar os ingredientes, olha para a receita para não falhar. «É muito importante respeitar a receita, caso contrário não acerta e é um grande prejuízo», salienta.
Derretida a banha, com a manteiga e o leite (ingrediente diferenciador e inovador do séc.XX), a massa adquire a cor acastanhada com a introdução do mel de cana sacarina.
«O melhor mel de cana é feito na Madeira na fábrica do Ribeiro Sêco», destaca, enquanto mede a quantidade certa e adiciona à massa, batida à mão pelo marido.
Aos frutos secos adiciona um pouco de farinha para que estes ingredientes não fiquem no fundo das formas e depois mistura ao preparado do alguidar.
A massa fica depois a repousar por algumas horas. Há receitas que admitem um repouso superior a um dia.
Em formas untadas com farinha, Cristina estende a massa e com paciência enfeita os bolos com amêndoas e nozes. Depois de uma hora no forno a 190º C, os bolos são retirados e depois de arrefecidos são embrulhados em papel vegetal para melhor conservação.
Cristina Marta gosta do produto final e, tal como manda a tradição madeirense, o bolo de mel é partido à mão e quando servido deve ser acompanhado por um fino e velho Vinho Madeira.
Produto certificado pelo Governo Regional da Madeira, o bolo de mel é conhecido em todo o mundo, sobretudo por acompanhar as mostras gastronómicas realizadas em bolsas de turismo e acções de promoção turística.
O bolo de mel de cana-de-açúcar representa uma herança gastronómica do convento de Monchique, depois de cruzados os ensinamentos culinários de Portugal com o exotismo árabe-berbere.
Crónicas Franciscanas mencionam que frei Jordão do Espírito Santo navegou no século XV para a Madeira munido da sabedoria do bolo de mel que mais tarde seria passada às freiras franciscanas do Convento de Santa Clara, no Funchal.
Especialistas na confecção de doçaria, as freiras juntaram ao bolo algumas especiarias, com destaque para o cravinho.

Bom apetite e Boas Festas!

3 comentários:

Joaquim Leça disse...

Caro Miguel Fernandes,

Permita-me desejar a continuação de Boas Festas e votos de um 2010 cheio de esperança.
Relativamente à receita do bolo de mel da Madeira, existe um pormenor que pode levar o leitor a obter uma informação imprecisa. Quando se fala das cidras cristalizadas, estamos a fazer referência a uma espécie de citrino e não às maçãs. A sidra com "s" é que é o sumo de maçã fermentado, ou como é vulgarmente conhecido, também como "vinho" de pêros!
Um abraço e parabéns pelo seu blogue!

ilha da madeira disse...

Este bolo de mel é a menina dos olhos de qualquer madeirense...

Domingos disse...

pena faltarem as tão importantes e citadas proporções..e as especiarias...