terça-feira, 23 de junho de 2009

O milho na gastronomia madeirense (I)


Calcula-se que o consumo do milho ronde os 7000 anos, com origem na América Central, sabendo-se que as civilizações astecas, maias e incas, alimentavam-se e tendo no cereal uma relação de cunho religioso.
Reza a história que até o descobrimento da América, em 1492, os europeus desconheciam por completo a existência do milho. Quando Cristóvão Colombo levou apresentou algumas sementes de milho, terá causou grande sensação entre os botânicos de então.
Linneus, na sua classificação de gêneros e espécies, denominou-o por "zea mays", do grego "zeia" (grão, cereal), e em homenagem a um dos principais povos da América, os maias. Hoje, seu consumo abrange praticamente todas as partes do mundo.
Na Madeira, a entrada do milho na alimentação acompanha a tendência do resto do país até ao século XIX, visto até então a batata, a semilha, o ínhame e os cereais, mormente o trigo, constituírem a principal base alimentar da população.
Com a crise da semilha, em 1841, provocada pelo míldio, os madeirenses sentiram necessidade de promover uma cultura de substituição, optando pelo milho. A fome teve uma expressão significativa, obrigando as autoridades de então a enviar uma delegação a Cabo Verde com intuito de serem aprendidas técnicas de plantação em escala e na aquisição de algumas toneladas do produto.
O milho constituiu a partir dessa altura a base alimentar da maioria da população madeirense, pese embora, as famílias mais abastadas, apenas esporadicamente consumissem o milho, como acompanhamento de peixe.
Por diversas vezes a imprensa refere que o milho era o principal alimento do povo. E quase todo ele era importado do estrangeiro, ou das colónias: a ilha produzia uma ínfima parte daquilo que consumia. O milho era servido de diversas formas na mesa rural madeirense: papas de milho (cozido), milho escaldado (sopa) e estroçoado. Segundo o Diário de Noticias, do Funchal, de 4 de Setembro de 1941, “o milho é, há muitos anos, um elemento fundamental da alimentação das nossas classes menos remediadas. Barato, de fácil preparação e de forte poder alimentar, nenhum produto
da terra o pode substituir ou sequer igualar”. Dai, deverá ter resultado a expressão popular: “Vai-se ganhando para o milhinho...”.

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