quarta-feira, 18 de março de 2009
Gastronomia tradicional é saudável
Ainda há poucos dias um colega de profissão perguntava-me se a gastronomia tradicional ou típica acompanhava os princípios de uma alimentação saudável, rica e diversificada, como hoje os nutricinistas advogam, sobretudo pelos hábitos de vida que as pessoas adoptaram.
Respondi que sim, desde que essa gastronomia seja confeccionada com os produtos tradicionais da região, admitindo alguma inovação e diversificação, até para facilitar a confecção de pratos seculares que ainda é possível encontrar na Madeira e consumido em doses moderadas.
As dezenas de sopas de legumes e de peixe, os caldos, a espetada de carne de vaca ou porco, os assados de galinha, os cozidos e as frutas madeirenses, são elementos gastronómicos ricos em nutrientes, mas que que, infelizmente, durante muitos anos, apenas chegavam á mesa das famílias mais abastadas da Região.
Infelizmente, ainda temos uma larga maioria de restaurantes que apresentam a mesma lista de pratos há muitos anos sem apostar na gastronomia tradicional, o que é cansativo não só para os locais como para quem nos visita, pois não ouvem falar nem de inovação nem de diversificação.
Como gastrónomo assumido, defendo cada vez mais o recurso regular dos produtos tradicionais da Madeira, procurando uma gastronomia de qualidade, simples, mas diversificada, acessível a todos, tal como procuro desenvolver neste blogue.
Sou apenas um autodidacta da cozinha. Não sou chefe de cozinha, nem tenho qualquer formação específica nessa área, mas porque sou um gastrónomo, entusiasta na matéria, de certa forma "investigador de sabores", defensor da "cozinha de autor", na qual cada um, à sua maneira, procura fazer alguma coisa de novo pela gastronomia, sem perfilar caminhos em que apenas os olhos comem, mas o estômago fica queixoso, faço esta reflexão com os meus visitantes neste espaço.
Quantos dos que estão a ler estas linhas, já comprararam ou receberam de oferta livros de culinária, assinados por grandes nomes da cozinha nacional e internacional, mas que depois, na prática, não servem para nada. Desde logo porque alguns ingredientes não se encontram disponíveis nas prateleiras dos supermercados, ou porque o modo de preparação é difícil, ou mesmo porque a linguagem não é entendível, entre outras razões.
Defendo que a confecção de refeições deve ser simples, doseada conforme as necessidades e os gostos de cada qual. Já repararam que são poucos os livros ou receitas que se adaptaram ao facto de hoje, centenas de milhares de pessoas viverem sós ou coabitarem apenas com mais uma pessoa.
Voltemos à gastronomia tradicional e saudável. Sou defensor da ideia de que na Madeira, tal como nos Açores, em Canárias e em Cabo Verde, é praticada a dieta Atlântica, herança em parte da cultura gastronómica da dieta Mediterrânica, candidata a património da UNESCO.
É nesta diferença que nos distinguimos do continente e do restante espaço europeu em termos gastronómicos. É mais aquilo que nos aproxima na região Macaronésia, sobretudo na confecção de alguns pratos e no recurso a determinados ingredientes. Este será ainda um dos meus assuntos de reflexão neste blogue, visto já ter participado como orador, em conferências sobre o tema, nos Açores e na Madeira.
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