quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Apicultura na Madeira

O MEL DE ABELHAS: ALIMENTO RICO PARA A SAÚDE
Quando ouvimos ou pronunciamos a palavra mel, associamos a um insecto conhecido da maior parte de todos nós, que de uma forma ou de outra nos faz lembrar uma experiência passada, muitas vezes negativa – "as picadas ".
Na verdade, não é bem assim, porque apesar de picarem (e só o fazendo em última instância), trata-se de um insecto bastante útil, contribuindo para o aumento do rendimento dos nossos apicultores, pelos produtos que nos proporciona (Alimentícios e medicinais, como o delicioso e rico mel, pólen e Geleia Real; Desinfectantes/cicatrizantes – Própolis; Profilácticos – Veneno da Abelha), e pelo seu importantíssimo papel que desempenha na polinização das plantas, cultivadas e naturais, proporcionando aumentos substanciais na produção e qualidade dos alimentos, bem como no equilíbrio dos diferentes ecossistemas.
Quando nos dói a garganta, ou nos encontramos constipados, com dores ou feridas expostas, lembramo-nos logo de algo que nos faça bem e nos cure. Aí nos lembramos do delicioso e saboroso mel de abelhas. Este líquido precioso, mais conhecido entre nós, produzido pelas abelhas já era utilizado como grande fonte de alimento, nos tempos do aparecimento do Homem sobre a Terra, sendo, portanto, muito provavelmente, o primeiro adoçante que existiu, e hoje, apesar do açúcar de cana, não tem rival para a saúde. "... Frutas e mel constituíram assim a alimentação natural do homem no passado".
Mas afinal o que é o mel e como obtemos " aquele alimento rico, doce e vitamínico", natural, fortificante, acima de tudo isento de aditivos e medicinal. Trata-se de uma substância composta na sua maior parte por açúcares naturais (frutose e glucose) bem como outros componentes importantes ao desenvolvimento humano:
Composição Química Média
(Por 100 gramas de mel)
Água 16,00 gr.
Frutose 40,50 gr
Glucose 34,02 gr
Sacarose 1,90 gr
Sais minerais, Proteinas
Aminoácidos e Outros
Valor Energético 225 Kcal
É um alimento. Obtêm-se essencialmente dos néctares das flores das plantas (árvores de frutos, hortícolas e principalmente das flores selvagens – méis de néctares) e das exudações de certas plantas e organismos vivos (méis de meladas). Estas substância são colhidas, libadas, transformadas e combinadas pelas abelhas, com substâncias específicas (ainda hoje pouco conhecidas pelo homem), para nos darem finalmente o mel. Depois é armazenado nos alvéolos de cera de onde é posteriormente colhido pelo homem.
A qualidade do mel é dada essencialmente pela satisfação de determinados parâmetros, normalizados e estabelecidos por lei ("Norma Portuguesa 1307": Teor em água, acidez, teor em cinzas - minerais, frutose, Glucose, sacarose, HMF, entre outras). No entanto, considerando a sua variabilidade, podem ser definidos segundo o seu aspecto, cor e sabor. Distinguem-se assim méis claros, escuros e de cor média. Muitos méis diferem não só pela sua cor principal, mas em função de outras matrizes diversas. Há por exemplo méis quase incolores, claros e transparentes.
Os méis escuros são considerados por muitos autores como os melhores, mais ricos em sais minerais, mais ácidos e associados a méis multifloras .
A abelha Apis mellífera, predomina nas Ilhas madeirenses - Madeira e Porto Santo, sendo que nesta última (e algumas ilhas do Arquipélago dos Açores), são as únicas que se conhecem, onde não se verifica a existência da praga Varroose, muito prejudicial e que se encontra difundida por todo o mundo. Assim, o mel que aqui se produz encontra-se isento de fármacos destinados ao combate da mesma. A Região, com cerca de 350 apicultores e 3000 colmeias, apresenta produções médias/colmeia de cerca de 9 – 10 litros, verificando-se uma subida destes valores unitários nos últimos tempos, consequência de uma melhoria das técnicas de maneio que vêm sendo implementadas entre os "apicultores" regionais. A sua produção total cifra-se assim entre as 30 – 35 Ton., sendo toda consumida e comercializada entre nós, em estabelecimentos comerciais, para venda directa ao público devidamente embalado e rotulado, pela Cooperativa de apicultores – Apimadeira, bem como locais de consumo na região, na tradicional bebida regional "a poncha", entre outros, sempre em consumo e natureza, dada a sua qualidade.
Em toda a Região, abaixo dos 400 metros, em determinadas zonas (micro-climas), a abelha trabalha durante todo o ano mais ou menos da mesma forma, sendo as recolhas de néctares muito menores, em épocas diferentes, principalmente no período invernal (variando no entanto de local para local). Estas recolhas dependem da abundância da vegetação que é muito variável na mesma época e a altitudes diferentes.
Quero dizer com isto, que não existem picos de produção regulares no tempo, como acontece em algumas Regiões, em que existem grandes extensões de floração (Trevo, Girassol, Rosmaninho, Eucalipto e outros). Isto explica os valores de produção anteriormente referidos.
Os méis predominantes são o multiflora (dada as pequenas ou mesmo inexistentes áreas de vegetação única). Possuem características próprias, mais rico, mais completo para a nossa alimentação que os uniflora. Sendo nosso, deve ser defendido como um produto com características únicas, principalmente o mel de montanha ou da zona da Floresta Laurissilva. Mesmo quando o ano é bom em eucalipto o mel continua a ser multiflora com grande predominância de néctares de eucalipto, em algumas zonas da Madeira
Os valores anteriormente referidos, quando comparados com outros países e/ou Regiões (14 - 15 litros), é baixo. No entanto, se pensarmos no nosso clima e no tipo de vegetação que possuímos, verificamos que este não é assim tão baixo, como já referido.
A Região, com os seus diferentes microclimas e zonas de vegetação específica, possui uma gama variada de diferentes tipos de mel, todos eles multiflora, pois não possuímos monoculturas que ocupem áreas consideráveis para tal, desde os mais claros e transparentes, como seja aqueles em que predominam néctares de cardos ensaião, os mais acastanhados, normalmente de zonas mais altas e Laurissilva até os mais escuros (assemelhando-se a "mel de cana") das zonas baixas onde existam bananais.
A cresta, que consiste em retirar o mel das colmeias é, na Região, efectuada de um modo geral (dependendo dos locais), no final do Verão, no entanto o mel pode retirar-se sempre que exista e quando haja condições para tal.
A primeira operação a efectuar é a desoperculação, seguindo-se a centrifugação, extraindo-se deste modo o mel dos opérculos. A limpeza ou filtragem faz-se naturalmente por decantação, obtendo-se, após cinco ou seis dias um mel límpido e isento de impurezas, pronto a enbalar e consumir.
Por vezes, quando a temperatura e mais baixa, o mel solidifica "gela" ou cristaliza. Este, é um fenómeno natural do mesmo, sendo uma garantia do seu grau de pureza, para os compradores que não a têm. A sua diluição pode, se desejar ser realizada em banho-maria, por forma a que não exceda 50 ºC (a colocação da embalagem ao sol é suficiente, fácil e sem gastos). Se a temperatura utilizada for no entanto excessiva, há destruição das propriedades físicas e alimentares do mel perdendo este muitas das suas qualidades. Assim quando desejamos um mel líquido, por associar-mos qualidade/liquidez, podemos estar a adquirir sem saber um mel de baixa qualidade, menos rico, em que o seu valor alimentar foi destruído por aquecimento escessivo.
O mel é muito higroscópico (absorve água com facilidade), como consequência fermenta e estraga-se. Deve por isso fechar-se bem. Pode ser utilizado para o consumo directo, com o pão, leite, chá. Na conservação da manteiga, para o polimento de tecidos (seda, cetim, lã), na preparação de papeis, em produtos higiénicos, como sabões, cremes, pastas dentífricas.
Por fim é muito utilizado em medicina contra o enfraquecimento geral (anemia, doenças cardíacas, hepáticas e renais), os resfriados, afecções das vias respiratórias entre outras, bem como para a preparação de bebidas (licores, poncha, hidromel entre outras).
Duarte Silva (Eng.)
(Apicultor)